Camp e a redescoberta do brincar
É raro fazer isso, mas dessa vez comecei esse post pelo título - o que me fez pensar que estamos no momento do “re”' com essa crise: redescobrir, ressignificar, repensar, refazer. Tempo de redescobrir atividades simples e cotidianas, de ressignificar nossos relacionamentos, de repensar nossa forma de consumir e viver e, principalmente, de refazer planos, projetos, estratégias e posicionamentos.
Apesar de não ter crianças em casa, todo esse período de quarentena me fez pensar muito nos pais que estão tendo que cuidar da casa, trabalhar e ainda manter os filhos entretidos. E pensar em crianças, brincadeiras e formas de mantê-las ocupadas, me lembrou da Camp, uma das lojas mais legais que visitei em Nova York na última NRF.
Com cinco lojas nos EUA, a Camp chegou para ocupar o espaço deixado pela gigante Toys R’ Us, que fechou as portas em 2018. A Camp se autodenomina uma “family experience store'", ou seja, uma loja voltada para experiências em família. Em outras palavras, é um verdadeiro parque de diversões com direito a escorregadores, playgrounds, espaços para tirar foto, experiências imersivas, atividades de recreação e por aí vai.
A experiência proporcionada pela Camp é realmente incrível - eles oferecem atividades para toda a família, tem oficinas de arte, culinária e yoga para crianças, shows e até ficam com as crianças para dar algumas horas de liberdade aos pais. Porém, dessa vez não é sobre o varejo de experiência que eu vim falar - até porque este perde relevância em tempos de pandemia. Muito além da experiência, a Camp tem muito a nos ensinar em termos de encantamento, comunicação e o futuro do varejo:
Serviço customer-centric: “nós não pensamos em como vender, mas em como servir as famílias.” É assim que Ben Kaufman, CEO da Camp, define o mindset da empresa, o que nos traz de volta para o conceito de humanização. Sim, vender é o objetivo final, mas ele deve vir como consequência de um atendimento impecável e um serviço que realmente facilite a vida do consumidor. Isso vai fazer toda a diferença na hora de reconquistar um cliente que volta fragilizado de uma crise.
Fidelização: de todos os clientes que visitam as lojas da Camp, 56% realizam alguma compra. Destes, 32% já compraram na loja antes. Quem trabalha com varejo entende a importância desse número - clientes que compram mais de uma vez na sua loja são os mais valiosos. Além de gastarem mais, são mais engajados e tem mais chances de recomendar a marca para outras pessoas. Ao se tornar destino e buscar formas de encantar e oferecer serviços, a Camp cria fidelidade e tem mais chances de ser lembrada na hora da conversão.
Conexão: uma coisa é certa, o ficar em casa transformou as famílias. Pais e filhos passaram a conviver 24h e, enquanto o processo possa parecer difícil, ele cria laços permanentes. A categoria de brinquedos aparece entre as seis mais buscadas do Google do último mês, os quebra-cabeças nunca venderam tanto. Ou seja, lojas que ofereçam produtos e atividades de convivência em família, ganham nova importância. O tempo livre nos fez redescobrir o brincar. O tempo em casa nos fez redescobrir os relacionamentos. E as lojas terão que redescobrir formas de se conectar com os clientes.
Parcerias: entre as grandes sacadas da Camp está a oportunidade de parceria com outras marcas. De takeover da loja à ações pontuais, é possível patrocinar as experiências rotativas da Camp. O alvo podem ser as crianças ou até mesmo os pais - a LG já distribuiu cookies saídos diretamente do forno que tinham acabado de lançar e a Mastercard já criou sua própria experiência imersiva. Co-criar é a palavra-chave da vez. Existe forma melhor de atrair um determinado público do que acessando ele através de marcas e empresas nas quais ele já consome e confia?
Adaptabilidade: mas e aí, você deve estar se perguntando, como a Camp está se virando com todas as lojas fechadas e consequentemente com o core do negócio 100% prejudicado? Apesar de não ter números, tenho certeza que estão sentindo, como todos. Mas, eles seguem online seu posicionamento de oferecer serviços às famílias e experiências lúdicas para as crianças. Além de terem uma super variedade de jogos e kits de DIY (faça você mesmo) para vender no site, estão também disponibilizando livros de atividades para download e impressão em casa e fazendo uma série de conteúdos para as crianças na página no Instagram - como concursos de dança e artesanato e aulas de como fazer massinha em casa, por exemplo. Isso sem mencionar as festas de aniversário online todos os dias às 17h, com direito a mágico, música e contadores de história virtuais. Assim a marca se mantem presente e relevante, pronta para a retomada.
E assim eu encerro o assunto dessa semana. Que outras marcas e empresas vocês viram se reinventar de forma rápida e relevante para o momento que estamos vivendo? Me conta nos comentários!