Selfridges Project Earth: varejo mais sustentável é possível?
Difícil afirmar isso em meio à dias de incêndios no Pantanal, mas o fato é que a preocupação com a natureza nunca esteve tão em alta. Prova disso é a quantidade de práticas de greenwashing que surgiram - empresas maquiando de verde suas operações como estratégia de marketing sem efetivamente realizar mudanças reais (infelizmente).
Marcas que se pintaram de sustentáveis podem até ter passado sem serem notadas nos últimos anos, mas prometem não ir muito longe com consumidores cada vez mais atentos, informados e preocupados com a questão. Pensar no quesito sustentabilidade é condição sine qua non para as empresas que estão surgindo agora e urgente para as que já estão estabelecidas no mercado. Assim como a digitalização, a adoção de práticas e operações mais sustentáveis promete ser acelerada com a mudança de paradigmas que tivemos com a crise que estamos vivendo em 2020.
Pode não ser ainda uma consciência generalizada, especialmente quando falamos em Brasil, mas o tempo dentro de casa trouxe à tona uma série de reflexões e, entre elas, a quantidade de coisas que consumimos sem necessidade. Sim, alerta vermelho para os varejistas que seguem focando 100% dos seus esforços no argumento do consumo desenfreado. Porém, uma bela oportunidade para aqueles que têm visão de futuro e estão sempre se reinventando, como é o caso da rede de lojas de departamento londrina, a Selfridges.
Lançado em plena pandemia, o Project Earth é provavelmente o projeto de sustentabilidade apresentado por um varejista mais completo (e aparentemente sério) que eu já vi - vale lembrar aqui também que quando o assunto é consumo, não existe 100% sustentável, mas isso é outra história. Voltando ao Project Earth da Selfridges… através dele, a empresa conhecida por suas lojas focadas em produtos de luxo se comprometeu a mudar e diminuir seu impacto no planeta em uma série de ações envolvendo funcionários, fornecedores e marcas parceiras. Da diminuição das emissões de carbono, à busca por materiais cada vez mais sustentáveis e o oferecimento de serviços que incentivam o consumo consciente, a empresa realmente criou um projeto 360º com direito a relatórios detalhados e promessas feitas publicamente. Confira a seguir algumas das iniciativas implementadas pela Selfridges:
1) Compromissos
O novo projeto da Selfridges tem como premissa uma série de promessas de mudanças que serão feitas em toda a cadeia até 2025. Entre estas, está a utilização exclusiva de materiais provenientes de fontes certificadas e sustentáveis, uma série de ações e serviços de varejo circular que serão aplicados às lojas, a criação de uma plataforma informativa com conteúdos relevantes sobre o tema, a mudança de mindset de fornecedores e funcionários e até a seleção de marcas que compartilhem das mesmas preocupações que eles. Ou seja, todos os pontos de contato e influência da empresa foram considerados e oferecem algum tipo de proposta de mudança.
2) Aluguel de roupas e acessórios
Entre os tipos de negócios que prometem ser acelerados com a pandemia está a venda e aluguel de itens usados - ótimo recurso para aumentar a vida útil dos produtos, gerar menos desperdício e até oferecer uma opção mais econômica para o consumidor. Pensando nisso, a Selfridges se uniu à HURR, marca de aluguel de roupas e acessórios de luxo, para criar pop ups dentro de suas unidades. Assim, quem vai à loja de departamentos de luxo, tem a opção de alugar peças de designers famosos por valores bem mais em conta e de forma mais sustentável também. Vale destacar aqui que se engana quem vê essa ação como uma forma de canibalização das vendas da loja - além de atrair um novo tipo de público e oferecer mais recursos para quem já é cliente, pode ser um ótimo argumento para a aquisição definitiva de itens no futuro. Ou seja, uma verdadeira forma de test-drive.
3) Venda de produtos usados
Além da opção de aluguel de roupas e acessórios, a Selfridges tem também uma frente de revenda de produtos usados de marcas vendidas pela loja. Eles fazem a curadoria, compram as peças usadas de clientes e revendem para quem interessar. Outra forma de varejo circular que vem crescendo. Cheio de possibilidades, esse recurso pode até ser um incentivo para a venda de novas peças na loja - a cliente traz itens que estão parados no guarda-roupa e assim pode receber algum tipo de vantagem na compra de novos. É também uma forma de atrair novos perfis de consumidores e estimular a adoção de práticas de varejo circular.
4) Serviços de reparo e conservação
Imagina comprar em uma loja que oferece serviços de reparos nos seus produtos caso algum acidente aconteça ou até dê aquela renovada nos itens que são muito usados. Dá uma sensação de segurança muito maior, principalmente quando se fala em artigos de luxo, não é mesmo? Em seu repairs concierge, a Selfridges oferece uma série de serviços que prometem deixar suas peças com cara de novas novamente. Consertar ao invés de jogar fora nunca esteve tão na moda - a natureza agradece.
5) Refil de produtos de beleza
Essa pra mim é uma das ações em loja mais fantásticas e inteligentes que vi nos últimos tempos. Em parceria com as marcas de beleza, a Selfridges oferece uma série de opções de refil de perfumes, cosméticos e produtos para casa. Você já parou pra pensar na quantidade de embalagens de alta qualidade que vão pro lixo sem necessidade? Pense em todos os vidros de perfume que já teve, batons, bases, sombras, e por aí vai. Agora imagina poder levá-los em uma loja e reutilizar essas mesmas embalagens pagando menos pelo mesmo produto. Além do quesito sustentabilidade, eis aqui um excelente argumento para tirar seu consumidor de casa e levá-lo para a loja física.
6) Parcerias e curadoria
Parte essencial para o sucesso do novo projeto da Selfridges é a parceria com marcas que partilham dos mesmos princípios e desejos de mudança e até a “chamada de responsabilidade” das que ainda precisam melhorar. Através de uma curadoria impecável, a loja de departamentos criou um sistema de divulgação e incentivo das marcas com produtos mais sustentáveis, como é o caso da Prada com sua linha de produtos re-nylon, feitos de nylon reciclado. Além de ganharem destaque nas redes sociais, site e visual merchandising da loja, foi criado um sistema de classificação dos produtos dessas marcas através de etiquetas que os agrupam em: veganos, livres de crueldade animal, feitos de couro responsável, produzidos localmente, atrelados à ações sociais, economia de água na produção, e por aí vai. Assim, os clientes sabem exatamente o que estão consumindo e podem inclusive escolher os produtos que mais se aliam com as causas que mais se identificam.
Fantástico, não? Fiquei realmente impressionada com o nível de detalhe e execução impecável do Project Earth da Selfridges - prova de que as lojas de departamento não morreram, elas só precisam ser reinventadas. Uma verdadeira aula de propósito, comunicação e desenvolvimento de experiências relevantes para o consumidor. E o melhor? Vejo várias dessas iniciativas sendo super aplicáveis a vários modelos de negócios atuais sem muita dificuldade. Já pensou como adaptar alguma dessas ações para a sua loja?