Impossível escrever o texto dessa semana sem nem mencionar a pandemia que estamos vivendo. Até porque sabemos que o mercado do varejo provavelmente será um dos mais prejudicados com essa crise. Apesar de todas as consequências, acredito que essa seja uma oportunidade de mudança e reinvenção, tanto no âmbito individual quanto no dos negócios.

Essa é a hora de repensarmos nossos hábitos, nossa comunicação, nossa estrutura de negócio, métodos de produção, logística, forma de trabalho, relacionamento com os funcionários e por aí vai. Incentivar o consumo desenfreado já não é legal, muito menos sustentável. O descartável, temporário, não reciclável vai sair cada vez mais de moda até chegar ao ponto que será evitado e até boicotado. Enfim, essa crise vai trazer mudanças que ainda nem somos capazes de prever, mas que precisamos estar atentos e assim entender por qual caminho seguir.

Dito isso, e enquanto paramos um pouco para olhar para dentro, ficar mais reclusos em nossas casas, vamos acompanhando e refletindo. Quem sabe nascem assim novas ideias para o nosso mercado que está em constante evolução?

E é com essa reflexão sobre o papel individual e coletivo, das reações em cadeia e consequências da globalização, que trago para vocês uma loja que já nasceu à frente do seu tempo. Já ouviram falar na Package Free?

Fundada por Lauren Singer, a Package Free tem como missão fazer do mundo um lugar com menos lixo. Como o próprio nome já diz, a loja vende produtos sem nenhum tipo de embalagem virgem e oferece tudo o que precisamos para viver uma vida sem embalagens. De talheres à produtos de higiene oral, passando por acessórios de limpeza e produtos de higiene e beleza - tudo foi feito para ser reutilizado, reciclado ou biodegradado.

A Package Free só trabalha com marcas que tem como missão gerar um impacto positivo no meio ambiente e controlam de perto as atividades dos parceiros - eles inclusive supervisionam o uso de embalagens na produção e distribuição dos parceiros e ajudam essas empresas a gerar cada vez menos lixo.

A loja, que começou como uma pop up em que as marcas pagavam entre U$1.000 e U$3.000 para entrar e ficavam com 100% do lucro, hoje já possui duas unidades em NY, uma em Williamsburg e outra no Chelsea Market, além do e-commerce. A Package Free para mim é um grande exemplo de uma marca coesa e alinhada com o momento que estamos vivendo. É uma marca que se conecta e aplica o seu propósito verdadeiramente e em todos os processos - não só para manter as aparências.

Além da curadoria dos produtos, todos os funcionários da Package Free são treinados e informados sobre sustentabilidade, entendem sobre os produtos e tem argumentos para explicar para o cliente o porquê de substituir a escova de dentes normal por uma de bambu, por exemplo. As lojas também não possuem lixeiras e trabalham proativamente oferecendo para reciclar embalagens que os clientes possam estar carregando. Isso sem falar no sistema de compostagem de lixo orgânico e nos locais para depósito de materiais e objetos não recicláveis como eletrônicos, fios e tubos de pasta de dente.

Ah, e não para por aí, até para os eventos sobre sustentabilidade promovidos pela marca o catering é servido em embalagens reutilizáveis. Percebem a importância da coerência, de ter um propósito, uma voz, um posicionamento e assim ter um norte para todas as ações? E é exatamente este olhar sistêmico e detalhista que vamos precisar ter cada vez mais daqui para a frente.

Porque o pior vai passar, o mercado vai se recuperar e as pessoas vão voltar a comprar, mas ninguém mais verá as coisas do mesmo jeito. Existe uma grande tendência para a mudança de hábitos. Assuntos como o consumo desenfreado, a humanização e a necessidade de desaceleração (que já vinham crescendo) agora tendem a voltar com força total, isso sem falar no aumento das vendas online. E aí, como fica o futuro do varejo nessa história toda? Essa é a hora de pensar!